Nova Diretoria Biênio 2024-20026
Comunicamos o início dos trabalhos da nova Diretoria da Associação Pro-Civitas, eleita em junho, mês em que…
PUBLICADO EM 24/11/14 – 04h00
LYGIA CALIL
O domingo foi marcado pela festa de torcedores cruzeirenses que foram ao Mineirão, na Pampulha, em Belo Horizonte, assistir ao time vencer o Goiás e conquistar antecipadamente o Campeonato Brasileiro. Para moradores do entorno do estádio, no entanto, dias de jogos não são para festejar. Pelo contrário: literalmente trancados em casa, eles se tornam reféns da falta de educação dos torcedores, que transformam ruas perto do Mineirão em área de concentração para jogos. Calçadas tomadas pela multidão se tornam banheiro público e área para piquenique.
O resultado dos churrascos nas calçadas e do consumo de álcool desde horas antes do início das partidas é um conjunto de crimes que incluem depredações, invasões de jardins, xixi por todo lado e estacionamento em local proibido, inclusive garagens. O assunto foi discutido na semana passada em audiência pública na Câmara, com presença de representantes de prefeitura, Polícia Militar, Minas Arena – que administra o estádio – e moradores. Na prática, no entanto, a discussão ainda não trouxe medidas efetivas para evitar o problema.
A situação se agrava nas ruas próximas às portarias, como a avenida das Palmeiras, no bairro São José, que dá acesso ao estádio. A reportagem esteve ontem no local e presenciou um cenário de carnaval de rua – carros com som em alto volume estacionados em local proibido e churrasqueiras portáteis nos jardins nas portas de residências. Com calçadas tomadas, torcedores se viam obrigados a transitar pela rua. Nem a chuva forte que começou por volta das 14h esfriou os ânimos. Sem churrasco, mas com muita bebida, torcedores continuaram a festejar, com rojões e música.
Intimidação. Morador da região, o servidor público Wagner Silva, 54, diz que, embora o problema não seja novidade, vem piorando. “As pessoas transformam a região em terra sem lei. Parece que viram bicho. Se a gente vai pedir, com educação, que não obstruam a saída da garagem, por exemplo, eles ficam agressivos e intimidam a gente. Nem a polícia consegue controlar a força da multidão”, afirmou.
Mesmo vestida com a camisa do Cruzeiro, a mulher dele, Kátia Marluce, 50, reclama dos torcedores de seu time e dos outros, que urinam tanto no jardim da casa que até as plantas estão morrendo. “A vegetação fica toda seca, não tem muito o quer fazer. Vou ter que arrancar tudo. Além do cheiro, que fica insuportável, e não é só de xixi. Homens e mulheres, de todos os times e idades, param aqui na porta, arriam as calças e fazem até cocô”, disse.
Na porta da casa da estudante Marina Ditta, 22, o problema são os churrascos. Ela fica intimidada do lado de dentro e, quando sai, tem de lidar com torcedores alcoolizados. “Quando o jogo é às 22h, eles já estão aqui ao meio-dia, com o som na maior altura. Ficam bebendo, assando carne e se drogando. Hoje (ontem) começou ainda mais cedo. Deveriam respeitar os direitos dos moradores. Se peço silêncio, ouço cantadas e desaforos. Já perdi as contas de quantas vezes chamei a polícia, mas eles já nem mandam mais policiais, porque não adianta”, relata.
“Quando reclamo com torcedores que queimam a minha grama com carvão ou que fazem xixi no jardim, a resposta deles é lixeira quebrada e interfone depredado”, relata o comerciante Moacir Antônio da Silva, 56, que mora na região.
Banheiro em via pública
Durante os 60 minutos que a reportagem ficou na varanda de uma casa na avenida Coronel José Dias Bicalho, observou 16 torcedores parando para fazer xixi na base de três árvores. “Estou fazendo xixi mesmo e quero ser a capa do jornal!”, disse uma mulher, ao observar a reportagem. “Se eu morasse por aqui também não ia gostar que fizessem isso”, disse um jovem, enquanto fazia xixi.
PM diz que 190 recebe queixas
A Minas Arena, que administra o Mineirão, afirmou que não tem como controlar o exterior do estádio. Comandante do policiamento da capital, a coronel Cláudia Romualdo informou que a Polícia Militar faz planejamento específico para cada jogo e que as queixas devem ser feitas ao 190.
Ninguém da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) foi encontrado para comentar as queixas. (Viviane Rocha, Especial para O TEMPO)